Provavelmente a maioria dos leitores do Olhar Anglicano não sabe que no ano de 2012, o Sínodo da Igreja Anglicana Reformada do Brasil votou uma matéria que versava sobre a mudança de nome da denominação. A Igreja viveu um momento muito interessante e desafiador, além de intrigante.
O desafio foi verificar que assim que a primeira proposta de alteração de nome chegou, enviada por um ministro leigo do Nordeste, que alegava que o termo "episcopal" era mais reconhecido que o termo "anglicano", muitas outras propostas foram colocadas na mesa. Significaria que não nos identificávamos com o nome adotado até então? E o que faríamos depois de votado o novo nome? Afinal, "anglicanos reformados" estava fortemente ligado ao trabalho feito até então, inclusive nas redes sociais, desde os tempos do finado Orkut.
O intrigante foi descobrir, após todos os debates e votações, que o nome antigo continuou adotado, sendo acrescido apenas de "do Brasil", devido a uma exigência da legislação brasileira.
Ainda que por alguns dias, talvez semanas, a perspectiva de uma mudança radical tenha nos arrebatado o espírito, foi no nome já adotado que conseguimos vislumbrar a jornada espiritual que nos estava proposta desde o inicio. Assim, continuamos a ser anglicanos reformados.
Podemos refletir sobre este tema, em primeiro lugar analisando o que cada um desses termos - anglicano e reformado - tem a dizer sobre aquilo que nos propomos a ser; e em segundo lugar, ponderando sobre a possível redundância que a expressão "anglicanos reformados" parece carregar.
De modo geral, "anglicano" se refere a uma das maiores tradições dentro do Cristianismo, e inclui, primeiramente, a Igreja da Inglaterra, bem como outras Igrejas espalhadas pelo mundo e que seguem as doutrinas, as práticas litúrgicas da mesma, e sua forma de governo eclesiástico. A maior parte das Igrejas anglicanas fazem, hoje, parte da Comunhão Anglicana, um organismo internacional que reúne os anglicanos de todo o mundo; porém, muitas Igrejas de ethos anglicano existem fora da Comunhão, e têm mantido fielmente as doutrinas e práticas dos Reformadores Ingleses.

Não foi a Reforma Inglesa, como alguns tem acreditado, um movimento tímido, que ficou em cima do muro, tentando agradar tanto a Igreja de Roma quando as Igrejas reformadas do Continente Europeu. Na verdade, os Reformadores ingleses foram, possivelmente, os que mais ousaram na Reforma, buscando simplesmente defender a verdade de sempre, a fé católica, contra os abusos, quer estivessem do lado dos "romanos" quer do lado dos "reformistas". Talvez por isso o anglicanismo cause certa estranheza. Para os cristãos romanos somos protestantes demais, e para os protestantes não somos protestantes o suficiente.
Cabe ao leitor a tarefa de verificar por si mesmo as provas sobre este caso. E há indícios de sobre de que somos verdadeiramente Reformados naquilo que vivemos e ensinados, especialmente no "Livro de Oração Comum", e nos "39 Artigos da Religião".
Mas quando juntamos estes dois termos, e cunhamos a expressão "anglicanos reformados", não deixa de se ter uma certa redundância. Justificável, porém.
De certo que o termo "anglicanismo" vai surgir justamente como uma referencia a Reforma da Igreja na Inglaterra; logo, anglicanismo e reforma, neste sentido, são sinônimos. Impossível mesmo é ser anglicano e não-reformado. Contudo, muitos acham que isso é possível, e seguem se afirmando anglicanos enquanto rejeitam os princípios reformados com os quais o "anglicanismo" nasceu. Daí nossa afirmação de tratar-se de uma redundância justificável, por tentar resgatar nos dias de hoje a cara original da Reforma Inglesa.
Hoje, como já comentamos em outro artigo, a Igreja Anglicana Reformada do Brasil é a Free Church Of England em nosso País. E isso apenas fortalece nossa identidade anglicana e reformada - mais de um século defendendo o anglicanismo do ritualismo supersticioso e do liberalismo teológico. Futuramente escreveremos um pouco a respeito da história de como a Igreja Livre da Inglaterra começou, e qual a importância de seu legado.
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