Olhar Anglicano | Da Redação
Em matéria publicada no portal The American Conservative, Gracy Olmstead cita pesquisa que apontou, em 2012, que 55% dos jovens sem Igreja já foram filiados a alguma agremiação cristã. Há uma clara sensação entre as lideranças evangélicas norte-americanas que a juventude está abandonando as Igrejas em massa. Apesar disso, é possível perceber outra movimentação acontecendo entre os jovens americanos: boa parcela dos jovens evangélicos, ao invés de abandonarem a Fé Cristã, estão optando por aderirem a Igrejas litúrgicas e tradicionais, como a Igreja de Roma e as Igrejas episcopais (notadamente anglicanas). O que os analistas tem a nos dizer sobre isso?
A própria Gracy Olmstead (@gracyolmstead), sugere em seu artigo tratar-se de "uma busca por sentido que toca o coração da nossa era pós-moderna". E cita o caso de Bart Gingerich, que acabou abraçando a espiritualidade anglicana depois de uma viagem intelectual na qual mergulhou no pensamento dos Pais da Igreja.
Giengerich passou seus primeiros 15 anos de vida na Igreja Metodista Unida, mas sua família acabou se filiando a uma igreja não-denominacional. Enquanto estudava em Patrick Henry College, na Virginia, acabou filiando-se a uma Igreja Batista de orientação reformada, localizada em uma cidade vizinha. Então ele começou a ler as obras de Santo Agostinho, e passou a se perguntar se toda a história cristã estivera errada, vindo a ser consertada apenas nos dias da Reforma.
Nas palavras de Gracy, nessa fase o protestantismo começou a incomodar o jovem evangélico "em um nível filosófico". O que fazer? Para onde ir? Giengerich encontraria sua resposta nas palavras de um pregador anglicano na capela da faculdade, que explicava a beleza da Eucarística para o culto cristão. Era isso que ele procurava. Pouco tempo depois foi recebido na Igreja Anglicana.
Tal decisão trouxe algumas complicações para Giengerich, pois, segundo conta, muitos amigos, e até mesmo familiares, parecem ter ficados magoados com sua nova filiação. Alguns questionam se ele ainda acredita em Jesus, ou se agora passou a adorar a Virgem Maria, e outras perguntas semelhantes. São questões, aliás, que revelam o quanto boa parte das pessoas desconhece completamente a teologia anglicana, como nós a explicamos aqui em artigos como "Porque Somos Anglicanos?", e "A Reforma Anglicana: A História Que Não Te Contaram".
Muitas outras Igrejas históricas estão percebendo essa tendência entre os jovens, e algumas até começam a adotar uma liturgia mais elaborada a fim de atrair a juventude. Steve Harmon, professor de teologia, afirma que até mesmo batistas confessionais estão mais aberto a um culto mais litúrgico, o que é surpreendente. "Isso representa que estamos reconhecendo, cada vez mais entre os Batistas, que nossa tradição por si só não é o suficiente", comenta Harmon.
Outro analista, Lee Nelson, que é co-presidente do grupo de missão e catequese na ACNA (Anglicana Church in Norte America), sugere que o despertar da liturgia entre os evangélicos pode ser extremamente positivo, pois favorece criar novas pontes entre as inúmeras divisões da Cristandade. ACNA é o ramo anglicano nos EUA que recebeu apoio do Papa Francisco (veja matéria), por ocasião da pose de seu novo Arcebispo.
Todavia, Lee Nelson faz um alerta: "Devemos nos perguntar: essas Igrejas estão se tornando litúrgicas porque esta na moda, ou porque é o certo a se fazer?". De fato, igrejas históricas, como anglicanas e luteranas, por exemplo, vivem a liturgia naturalmente, porque isso faz parte de sua identidade. A questão é saber se Igrejas sem liturgia formal estão abraçando a ideia por convicção, ou apenas por conveniência.
Seja como for, o fato é que as Igrejas evangélicas nos Estados Unidos enfrentam o desafio de um grande êxodo de jovens, muitos deles tornando o que se costuma chamar "desigrejados". Ao mesmo tempo, percebem que outra grande parcela está aderindo a tradições mais históricas da Fé Cristã. Esses jovens estão procurando as igrejas episcopais, orientais e até mesmo a Igreja de Roma - artigo de Gracy não fala apenas do encontro de Giengerich com o anglicanismo, mas de Cole, que abraçou o cristianismo oriental, e o de Stellman, que se juntou a Igreja Católica Romana.
Ao que parece, a igreja evangélica moderna não está sendo capaz de responder ao anseio dos jovens por um cristianismo coerente, capaz de unir o cristianismo do passado, com o do presente, e de olho para o futuro. "Enquanto muitas igrejas protestantes se tornaram liberais nos últimos 100 anos", comenta Benjamim, leitor de Gracy, "as igrejas evangélicas, mais bíblicas, tornaram-se gradualmente insípidas, por focarem o emocionalismo e a experiência pessoal".
Com informações do The American Conservative.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentário, teremos prazer de publicar sua opinião, e se preciso, responder. Envie-nos sugestoes, ou perguntas a respeito da Igreja Anglicana Reformada do Brasil, e da Free Church Of England.