Rev.
Marcelo Lemos
Depois
da polêmica envolvendo a Bíblia do Thalles (veja aqui), Thalles
Roberto volta ao centro do furação, e desta vez, até alguns de
seus fãs mais inebriados podem estar sentido aquela pontinha de
“vergonha alheia”. O cantor gospel aparece em vídeo recente
afirmando ter dito a Deus que estava “acima da média” quanto
comparado aos demais cantores do cenário gospel, ao que Deus teria
respondido: “você está entre gente fraca, quero ver você ter
sucesso entre os grandes”. Tudo isso para justificar sua saída do
cenário gospel, e abraçar o ainda mais rico cenário da música
secular. Segundo Thalles, tudo em nome da Evangelização, claro; e
mais: a mando direto do próprio Criador. Sendo assim, quem são os
estúpidos corajosos o bastante para questionar suas decisões e
declarações inspiradas pelo próprio Jeová, não é mesmo?
Com
a nova polêmica bombando na Internet, a assessoria de imprensa do cantor achou melhor divulgar uma nota de esclarecimento - que talvez convença aqueles fãs ávidos por qualquer justificativa que amenize o
tom presunçoso de seu ídolo... Mas, para bom entendedor, o remendo
ficou maior que o rasgo. Vamos dar uma olhada na resposta de Thalles.
Mas, antes, vale a pena destacar que Thalles Roberto é apenas um sintoma da condição moral, espiritual e doutrinária da Igreja
Evangélica no Brasil.
Ele
e boa parte dos artistas que parasitam a Igreja, não são necessariamente a doença, são os sintomas, como a febre é
sintoma de que algo de ruim acontece com o corpo. Temos uma Igreja
débil, irrelevante, mundana, anti-intelectualista, e muitos
ministérios surgem para atender a uma demanda de mercado gerada por
essa “igreja”. Thalles não criou um novo mercado de consumo para
os crentes, ele apenas oferece aquilo que o mercado deseja – e é
muito bem pago para isso. Como ele mesmo diz, ou o deus dele parece
ter dito, entre tanta gente ruim artisticamente, alguém “acima da
média” só poderia mesmo ficar milionário. Do ponto de vista
econômico não tenho nada contra empreendimentos do tipo; agora, só
não confundam isso com o Evangelho, com a Evangelização dos
perdidos, nem com Avivamento. Trata-se apenas das leis de mercado em
funcionamento. Nem mais, nem menos.
Dito
isso, vejamos que tipo de “ministério” a Igreja evangélica
gosta de consumir.
1.
Ministérios pautados pela presunção pessoal.
A
humildade passa longe de boa parte de nossos púlpitos, ministérios
ou artistas. Aparentemente, a fim de fazer sucesso no mercado
evangélico é preciso uma boa dose de auto-promoção, especialmente
se recheada de alguma palavra divina bem convenientemente dirigida ao
artistas, conferencista, auto-proclamados apóstolos, e assim por
diante. A nota de impressa divulgada pela assessoria de Thalles não
deixa por menos:
“Amados ,
bom dia ! Eu gostaria de falar com todos, de uma vez a respeito de
uma palavra que ministrei em Brasília há duas noites atrás ! Um
impacto!”
Sim,
um impacto! E foi tão grande que abalou até o ministério pessoal
do cantor, cuja assessoria parece ter vislumbrado certo abalo mais
sério... quem sabe nas finanças.
Imagine
qual deve ser a reação dos artistas que Deus contou para Thalles
serem menores, e muito menos competentes que o Pop Star gospel? Pode
ser que eles não concordem com tais elogios vindo de Deus para eles,
não é mesmo? Afinal, quase todos eles fazem sua própria
auto-promoção, afirmando que foram chamados e ungidos para fazerem
exatamente o que fazem. Ou vai ver Deus tem aminêsia, e já se
esqueceu de ter falado com quase todos eles. Ou então Thalles é o
único fiel a chamada. Ou talvez tenha Deus lhe dado algo que não
deu aos demais. Seja como for, como isso afetará a popularidade, e
consequentemente, as finanças do cantor? Bem, pelo que vemos, sua
acessoria de imprensa achou por bem não se arriscar de mais, e
tentou consertar a bobagem.
Mas,
como diz um ditado, raposa velha perde o pelo mas não perde o vício.
Numa nota ofical que deseja se desfazer da evidente presunção
demostrada pelo cantor em um vídeo, o mesmo vem a público fazer
mais propaganda de sua “unção” de levita, descrevendo sua
ministração presunçosa como “um impacto”. Uau!
Pessoalmente
aprendi que uma das qualidades do ministro cristão é a humildade, e
o reconhecimento de que se algo de bom vier através de nós, devemos
simplesmente olhar para os céus e clamar “Soli Deo Glória”. Na
verdade, talvez aqueles que recebem o privilégio de ministrar algo
para a Igreja devessem ser lembrados que Deus usou até uma
jumenta... Mas, isso não rende dividendo, concordam? Então, para
quem precisa viver do peixe que vende o melhor mesmo é não perder a
chance de ficar sob os holofotes.
2.
Ministérios pautados por achismos gospeis.
A
próxima declaração do cantor continua recheada de auto-promoção,
como “tenho buscado a Deus de de uma forma mais intensa
ultimamente” (coisa que Jesus condena fazermos, atribuindo esse tipo de auto-promoção aos fariseus); ou esta outra “me tornei esse
FURACÃO de sucesso”. E o furacão está em letras maiúsculas por
iniciativa do próprio Thalles, ou de sua assessoria. Não me
surpreende, e já comentamos sobre essa necessidade de auto-promoção
do mercado. Mas, é o finalzinho do parágrafo que me faz ter
calafrios ainda maiores:
“Eu
tenho buscado a Deus de uma forma mais intensa ultimamente ! Desde
que me tornei esse "FURACÃO " de sucesso eu tenho clamado
a Deus pra que o meu sucesso nunca me roubasse a VERDADE, a
minha verdade!”.
O
cantor não se dá por satisfeito em afirmar que espera não perder a
Verdade, precisa esclarecer do que está falando, e é “a
minha verdade”.
Pelo menos ele é honesto, não se trata da verdade bíblica, não se
trata da verdade do Evangelho, e sim de qualquer outra coisa da qual
ele pode dizer “a
minha verdade”.
Uau! E desde quanto Thalles Roberto tem uma verdade para chamar de
sua?
Infelizmente,
essa é outra característica da Igreja gospel, cujos artistas e
promotores reproduzem o que ela quer, e lucram. Geralmente eles
descrevem esse tipo de besteirol como revelação, iluminação,
palavra profética, sonhos e visões... eu chamo apenas de achismo
gospel. Na pior das hipóteses, profetada gospel também serve. Mas,
convenhamos, num cenário religioso onde a Bíblia se torna cada vez
mais secundária, e ministérios personalistas cada vez em maior
evidência, não é de surpreender que um animador de bodes faça a
Igreja engolir uma declaração tão estapafúrdia, apóstata e ímpia
quanto “a minha verdade”.
3.
Ministérios orientados pela e para a auto-ilusão.
Toda
essa polêmica, como já pontuamos, se deu quando Thalles tentou
justificar que agora estará de volta ao cenário da música secular.
Pessoalmente nada tenho contra. Arte é arte, e o cristão não
precisa fazer arte gospel, só precisa fazer arte que reflita a
cosmovisão cristã.
Aliás,
cristão que faz arte gospel já tem algo de errado em sua visão de
mundo, simplesmente transformando a Igreja em um gueto consumista
alheio a realidade a sua volta, no qual apesar de não se consumir
maconha ou pó, bebe-se muita “vitória com sabor de mel”, e
coisitas más... Thalles quer fazer música voltada para todos os
públicos? Acho válido. Muito mais válido que fazer música de
gueto, em minha opinião. Agora, de boas intenções dizem que o
Inferno está cheio.
Quanto
ao Inferno não sei dizer, mas quanto ao cenário gospel... Bem, o
que não falta por aqui é auto-ilusão. Gritos, berros, danças,
palavras proféticas, atos proféticos, e... e nada, além da
costumeira histeria. A igreja torna-se cada vez mais secularizada, e
a cultura que nos cerca cada vez mais mergulhada em pecado, violência
e corrupção. Mas, nada disso importa, os que vivem do mercado
gospel continuam a bradar aos quatro ventos: “O
Brasil, tá tudo dominado”.
Thalles
sabe o poder dessa ilusão auto-imposta, e declara:
“Mudar a cultura desse país através da luz que pode ser PLANTADA
em cada coração através da música de alguém que tem o ESPÍRITO
DO DEUS VIVO! O diabo está destruindo o mundo através da arte , da
cultura , ele está colocando pessoas podres em evidência , reinando
sobre os montes e isso não pode continuar! Nós temos que reinar
nesse monte, essa geração tem que ser influenciada por alguém que
conhece o espírito de DEUS e o que ele pode fazer na vida do homem”.
Em
outras palavras, Thalles deseja sair do gueto gospel e atingir um
público maior, a fim de transformar a cultura brasileira como um
todo. Uau! Que meta maravilhosa. Só tem um problema: como ele
pretende fazer isso se não foi capaz de mudar em nada o estado
deprimente no qual a Igreja evangélica se encontra? Ou ele acha que
transformar a cultura é fazer as pessoas dançarem, imitarem animais
silvestres no culto, e falar gíria de crente? Talvez para Thalles e
seus fãs, que são muitos, o dia em que cada brasileiro estiver
dando chiliques gospel em cada esquina, estará tudo dominado –
ainda que a Igreja e a Nação continuem mergulhadas em escuridão e
morte.
Por
fim, Thalles termina com um pedido bem interessante: “Na
verdade , o que eu preciso de todos não são pedradas e acusação e
SIM ORAÇÃO!”.
Thalles
Roberto é tudo o que é, segundo sua versão da história, porque
teve o que ele chama de Primeira Visitação, na qual Deus falou com
ele pessoalmente, convertendo-o. Agora, ele irá impactar o Brasil
como resultado de uma Segunda Visitação. Se um dia chegarmos ao
ponto de existir uma Igreja Thallesiana, certamente essa Primeira e
Segunda Visitações serão alvos de estudos teológicos, apologias e
debates, como acontece hoje com as visitações de gente como Josep
Smith, o fundamento da seita mórmon.
Uma
pena que o deus que falou nas visitações de Thalles não se pareça
tanto com o Deus que fala nos Evangelhos. Porque o Deus que fala
através daquela que é a única Palavra de Deus jamais exalta o
homem, antes o humilha. Tivesse sido visitado pelo Deus da Bíblia, o
artista jamais descreveria a si mesmo como “eu
ainda sou o Thalles Roberto, homem de Deus, comprometido com o Reino,
sem mancha, sem pecado encoberto, sem sujeira debaixo dos panos...
estou debaixo de uma ordem que veio LÁ DE CIMA”.
Uau! Minha Nossa! Que grande cara você é! Parabéns.
Pena
não ser assim que falaram os que verdadeiramente foram inspirados
pelo Espírito de Deus, como S. Paulo: “Miserável homem que sou!
Quem me livrará do corpo desta morte? Dou graças a Deus por Jesus
Cristo, Senhor Nosso” (Romanos 7: 24,25a).
Mas,
é o que tem pra hoje! Uma Igreja que valoriza, e deixa milionários,
os presunçosos, ignorantes de Bíblia e auto-iludidos. E isso
porque ela mesma, a Igreja, é tudo isso também. Que Deus tenha
piedade de nós.
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