Rev. Marcelo Lemos
O tempo passa e com ele esvai-se muito daquilo que valorizamos, inclusive as palavras e seus significados. Veja-se, por exemplo, a palavra "casamento". Tradicionalmente esse termo referia-se a uma instituição criada pelo próprio Deus, ainda no Jardim do Éden, com o objetivo de unir um homem e uma mulher num laço perene de amor, intimidade e companheirismo. "Portanto deixará o homem seu pai e sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma só carne. E ambos estavam nus, o homem e a sua mulher; e não se envergonhavam" (Gênesis 2.24,25).
Outra palavra cujo significado está sendo perdido é "casal". Busque em seu dicionário enquanto o politicamente correto não o "corrige". Ele lhe dirá que um casal é formado por um "macho" e uma "fêmea". O óbvio: seu eu digo a você que tenho um casal de felinos, automaticamente você conclui que tenho um gato e uma gata. O mesmo vale para um casal de filhos, de cães, de ratinhos da índia, ou de periquitos. Todavia, atualmente "casal" também pode significar "dupla", como João e Alexandre, Rodrigo e Santoro, ou Ana e Paula. Em nome do "amor" nem o óbvio resite de pé, sucumbe a ditadura da cultura dominante.
Assim, "casamento" passou a referir-se a coisas bem diferentes do proposto no Éden. Agora, se alguém lhe diz que é "casado" ou "casada", isso pode significar várias coisas, desde estar simplesmente morando com alguém, ou estar numa "união estável" reconhecida pelo Estado, ou ainda morando com um parceiro do mesmo sexo. A palavra em si não diz nada, e pouco importa, aliás, que nossa Constituição Federal defina que no Brasil o casamento é a união legal entre um homem e uma mulher. Isso é coisa do passado, apesar do que diz nossa carta magna.
Fico feliz que para nós, Anglicanos Reformados, o mero casamento "legal", fomentado pelo Estado, não significa a união plena entre duas pessoas. De fato, entendemos que o casamento realizado em um cartório trata-se apenas de uma formalidade legal; é um contrato social necessário para garantir determinados direitos e deveres, mas que não efetiva qualquer união de modo pleno perante Deus e a Sua Igreja. Para nós, homem e mulher só estão, de fato, "casados", quando sua união realiza-se perante os homens e também perante a Igreja. Por este motivo não pregamos a necessidade de um mero "casamento/contrato", mas sim, a necessidade do Matrimônio.
Por isso, toda pessoa que chega a qualquer de nossas paróquias, e está casada com alguém, vai precisar responder a duas perguntas bem simples:
(1) Você estão casados perante a Lei Brasileira?
(2) E perante a Igreja, a união de vocês foi oficiada?
Caso qualquer uma das respostas seja negativa, nós Anglicanos Reformados não reconhecemos esse "casamento" como sendo o Matrimônio instituído por Deus. De certa forma, estamos dizendo que o casamento cristão é muito mais que um contrato social. Ele é um voto, um rito sacramental, que segue as Leis de Deus, e é oficializado perante a Igreja de Cristo. Qualquer pessoa pode estar casada ou, melhor, atrelada a um contrato social com quem bem entender, e isso será válido perante a Lei dos Homens; mas, apenas os cristãos podem estar casados perante Deus através do Matrimônio, segundo as Leis do Evangelho.
C. S. Lewis, autor das Crônicas de Nárnia, e fervoroso anglicano, comentou algo sobre este assunto quando escreveu:
"A minha opinião é que a Igreja deve reconhecer com franqueza que a maioria do povo britânico não é formada por cristãos e, portanto, não se pode esperar que vivam vidas cristãs. Deveria haver dois tipos de casamento: um governado pelo Estado, com regras aplicáveis a todos os cidadãos, e outro regido pela Igreja com regras impostas por ela aos seus próprios membros. A distinção deve ser a mais clara possível, a fim de que um homem possa saber quais casais são casados no sentido cristão, e quais não são".Em outras palavras, o fato do Estado dizer que A+A, ou A+B estão casados significa apenas que ambos possuem um contrato social que estabelece direitos e obrigações, mas não significa necessariamente que estão, de fato, casados aos olhos de Deus e da Sua Igreja.
O casamento legítimo, o cristão, é definido exclusivamente pela Igreja. Bom seria, evidentemente, que toda a Nação pensasse dessa forma, e devem os cristãos lutarem contra toda ameaça ao modelo cristão de família, afinal somos luz e sal do mundo, segundo as palavras do próprio Cristo. Mas, em meio a uma geração idolatra e escravizada pelo pecado, que os cristãos saibam diferenciar o joio do trigo, e que não tenham medo de discriminarem aquilo que é daquilo que não é, de fato, Casamento Matrimônio - casamento de cartório é apenas um contrato, tão "especial" quanto o contrato do aluguel de uma casa, por exemplo.
Pode chegar o dia no qual o Estado aprove o casamento entre homens e meninos, mulheres e meninas, homens e seus animais de estimação. É lastimável. É perigoso. É juízo de Deus contra o mundo. Já existem milhares que apoiam essas mudanças na legislação mundo a fora. "Que um homem possa se casar com quantas mulheres desejar"; dirá o Estado; ou "que cada mulher se case com quantos homens preferir." Segundo a lei dos homens, estarão casados, mas segundo a lei de Deus são apenas adúlteros, prostitutos e devassos. O Matrimônio Cristão, o verdadeiro e único casamento aceito por Deus, é aquele ministrado pela Igreja, segundo os preceitos e orientações da Palavra do Cristo.
Por tais razões que um ministro anglicano reformado jamais realiza casamentos, o que ele faz é celebrar o rito sacramental do Santo Matrimônio. E sobre este o Estado, e a cultura dominante não tem nenhum poder.
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