Rev.
Marcelo Lemos
Uma
das coisas que considero mais difíceis de explicar é a popularidade
das diversas Bíblias de estudos. Economicamente falando trata-se de
um mau negócio para o comprador, uma vez que uma versão comum da
Bíblia pode ser adquirida por menos de R$ 20,00, enquanto as versões
“especiais” podem ultrapassar tranquilamente a marca dos
R$100,00.
Outros artigos de opinião:
Algumas
publicações comemorativas, ou personalizadas até são úteis, e
podem ter inclusive algum apelo emocional. Eu mesmo tenho a Bíblia
de Genebra, e dei uma Bíblia da Mulher para minha esposa. Acho
válido. Mas, daí a explicar que o evangélico brasileiro parece
colecionar bíblias de estudos é ir além da mais simples analise.
Nota: no mesmo dia que publicamos essa matéria um grupo de evangélicos criou um abaixo-assinado contra essa nova publicação - confira o artigo "Petição Contra a Bíblia do Thalles".
As
Bíblias de estudo são coisas do Capiroto? Não creio. Acredito que elas
são como qualquer outra ferramenta, e podem ou não ser utilizadas
para fins inconfessáveis. Claro que há sempre o risco delas possuirem doutrina ruim, má exegese, ou simples mau-gosto. No geral,
entretanto, elas podem ter alguma utilidade para o estudante das
Escrituras. E é exatamente aqui a raiz da minha dificuldade em
compreender o fenômeno.
Nos
últimos dias as redes sociais foram varridas com mensagens contra e
a favor da mais nova Bíblia de estudo disponível no mercado: A
Bíblia do Thales Roberto.
Evidentemente, essa publicação atesta o quão aquecido está esse
nicho do mercado editorial evangélico. Se antes Igreja e
instituições cristãs tentavam seu lugar ao sol nesse mercado,
agora também os cantores o desejam – mesmo aqueles como Thalles
Roberto, que atribuiu recentemente um Salmo de Davi a pena do
apóstolo S. Paulo. Teria ele aprendido tal "pérola" em sua Bíblia de Estudo?
Você pode gostar de ler:
Todavia,
a Bíblia
do Thales Roberto
não é responsável pelo mercado, é o oposto que se dá. Ou seja,
Thales Roberto está apenas oferecendo aquilo que o mercado deseja,
assim como o padeiro não cria a fome do Seu João, apenas vende o
desejado alimento. De certa forma é algo que poderia ser comemorado,
pois no caso das Bíblias de estudos a fome é de mais palavra de
Deus, mais conhecimento teológico, mais vida com Deus. Certo? Talvez
não.
Na
prática, o que presenciamos na Igreja brasileira é uma doutrina aguada, sem sal e nem fundamentos firmes. Apesar de todas as
milhares de versões de estudo das Escrituras que vendemos, ainda
agimos como crianças na fé, e somos, a torto e a direito,
explorados pelos mais absurdos mercadores da fé. E creio que lançar
mais bíblias de Estudo só fará a coisa se agravar ainda mais,
pelas seguintes razões:
Bíblias
de Estudos podem tornar o leitor preguiçoso.
Certa vez presenciei um pregador consultar notas de rodapé da
Bíblia de Estudo Pentecostal alguns instantes antes de subir no
púlpito. Ora, o papel do pregador é debruçar sobre o texto
bíblico, e só sair de lá quando tiver certeza que compreendeu a
mensagem do Senhor para sua Igreja.
Bíblias
de Estudos podem enganar o leitor.
Os comentários de rodapé de uma Bíblia de estudos não são
inspirados pelo Espírito Santo. No entanto, se supõe que tais
comentários contam com a expertise de alguma autoridade
eclesiástica, não é mesmo? Se até mesmo pregadores e teólogos experientes tendem a confiar nesse pressuposto, o que dizer do
cristão mais simples? Tem pessoas que ao serem questionadas sobre
um significado do texto bíblico, ao invés de lerem o texto
sagrado, consultam as notas de rodapé!
Ademais,
pode ser o caso de que tanto sucesso editoral apenas demonstre o quão
raso é o nosso cristianismo evangélico. Talvez a Bíblia do Thales
Roberto seja apenas mais um sintoma de que desejamos uma fé cristã
que não exija esforço, e as bençãos de Deus, inclusive o conhecimento d'Ele, venha até nós mastigadinho, pela mediação de
algum “sacerdote” ordenado, e com muita “unção” para
vender, ops!, distribuir.
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