Rev. Marcelo Lemos
Recentemente aconteceu na Igreja da Irlanda um referendo intitulado Marriage Equality Referendum. O resultado faz ver que existe entre aqueles nossos irmãos episcopais uma ampla variedade de opiniões sobre o tema, e os membros da Igreja são convidados a cultivarem um espírito de respeito mútuo. A diversidade de opiniões apontada pelo referendo, no entanto, não altera a atual legislação da Igreja irlandesa, que expressamente veta seu clero de participar da promoção do chamado "casamento igualitário".
Em carta, os Bispos daquela Igreja lembram seus irmãos que justamente este fato: sua legislação impede que casamentos igualitários sejam promovidos. Mesmo aquele clérigo que defende a normatividade do homossexualismo está impedido de celebrar tais uniões, pois, dizem os Bispos "isto não será possivel enquanto os cânones da Igreja da Irlanda forem como são". Além disso, o casamento na Igreja deve estar de acordo com os ritos liturgicos e "a Igreja da Irlanda não têm uma liturgia para o casamento de pessoas do mesmo sexo", afirma a carta.
A atual legistação da igreja irlandesa é algo a ser comemorado, e neste sentido, a carta dos Bispos é louvável e correta - pior seria tivessem advogado a rebelião contra tais normas, ou mesmo convocado o clero a votar alguma mudança, ou então censurado os cristãos que se mantêm fiéis aos formulários do Anglicanismo. Também é salutar e refrigerante saber que naquela Igreja existe uma consideravel multidão de cristãos fieis. Por outro lado, não é alarmente que tal documento tenha limitando-se a explicar que tal impedimento deve-se a uma questão meramente, digamos assim, de direito canonico? A pergunta que fica é: quem tem a autoridade final na Igreja é o direito canonico aprovado institucionalmente, ou a Escritura Sagrada? Ou, vale o que está escrito onde? Na legislação da Igreja da Irlanda ou nas Cartas de S. Paulo, por exemplo?
Observa-se na carta que Bispos citam "Deus" uma única vez, e o Senhor Jesus nenhuma. No entanto, eles mesmos, os "Bispos" ou "Igreja da Irlanda", são citados 15 vezes - ou seja, não se lida aqui com a autoridade da Escritura, mas com a autoridade meramente humana! Assim a carta nos parece mais uma peça política, cujo objetivo é manter a unidade do clero, mas desprovida de qualquer teor realmente pastoral no sentido bíblico do conceito. Os Bispos não se preocupam em recordar seus irmãos a respeito do que a Bíblia ensina - quer a favor ou contra o casamento igualitário! Preocupam-se apenas com aquilo que está escrito em suas atuais leis denominacionais.
Não nos parece exagerado afirmar que os episcopais irlandeses estão, na prática, brincando com fogo. A carta apenas brinca de ser ortodoxa, e mesmo assim, trata-se de uma ortodoxia da lei denominacional, não da Fé Cristã. De fato, apesar da decisão estar correta, não é a lei especifica de uma Igreja que torna o casamento igualitário um pecado, mas sim o ensino das Escrituras. Nas entrelinhas da carta episcopal, o leitor compreende que, caso a Igreja venha mudar sua legislação, todo impedimento concernente desaparece. É assustador!
Para concluirmos vale destacar que a experiência tem revelado que o alegado respeito mútuo entre ortodoxos e liberais sempre acaba dando gás aos liberais que, no fim, desejam mesmo é dominar os rumos dessa história - no artigo "Liberalismo Teológico: como começa a praga liberal?", que escrevemos para o CACP, abordamos esse problema. David Virtue, citado naquele artigo, afirma categoricamente que os liberais trabalham para que “todas as expressões ortodoxas sejam, primeiro, marginalizadas, para em seguida serem expulsas da Igreja, e finalmente destruídas”.
Ou seja, essa tolerância só tende a favorecer a agenda liberal, ainda mais quando o que deveria ser uma carta episcopal em prol da ortodoxia, é apenas uma carta episcopal em prol do politicamente correto.
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