Rev. Abdias Caldas Junior
É
comum hoje em dia nos depararmos com crentes (normalmente
desigrejados) que rejeitam o ministério eclesiástico ordenado e que
contestam que a figura tradicional do pastor e líder do rebanho seja
comprovada biblicamente. Alegam que isso é apenas tradição e
invencionice humana, mas o fato é que negar o ministério pastoral
ordenado, baseando-se em João 10.16, alegando que só há um pastor
que é Jesus, não passa de um entendimento herético comum à
algumas seitas heréticas.
Esses
crentes entendem e aceitam que a ordenação era legítima somente no
AT, mas não se aplica ao NT pelo raciocínio de que todos os crentes
cristãos são sacerdotes comprados pelo sangue de Jesus (Ap 5.9)
e que a figura do
sacerdote ‘intermediário’ entre Deus e os homens não voga mais
após o sacrifício de Cristo (1Tm 2.5), que por ser único, põe
ponto final tanto na necessidade de novos sacrifícios quanto no
oficio sacerdotal instituído na Velha Aliança. Tudo isso seria
correto e aceitável não fossem considerados alguns pontos:
Vemos
no próprio Cristo uma espécie de ordenação (ou unção) realizada
por João Batista; digo “espécie de ordenação”, pois não se
pode aceitar que o batismo de Jesus seja uma purificação ou mesmo
iniciação, por questões óbvias de divindade e santidade de Jesus.
João era de linhagem sacerdotal e podia transmitir a continuidade
ministerial à Jesus (Lc 1.5), ainda mais porque isto estava
profetizado (Is 40.1-5). Quando Cristo se propõe a ser batizado por
João, este tenta dissuadi-lo, mas o Senhor assevera que é
necessário cumprir toda a justiça (Mt 3.15); isto nos mostra que
havia em Cristo respeito ao trabalho do antecessor que deveria ser
honrado com o recebimento de sua bênção. Jesus inicia seu
ministério após o batismo de João como reconhecimento de sua
autoridade, sendo confirmado nada mais nada menos que pelo maior dos
profetas nascidos de mulher (Mt 11.11), para ser enviado ao campo
pelo Pai, como apóstolo, conforme Hebreus 3.1.
Os
discípulos que mais tarde seriam chamados de apóstolos (Mc
3.13-19), foram escolhidos e devidamente preparados diretamente por
Jesus (Mt 4.18-22). Foram chamados e orientados; instruídos na
exegese que Cristo fazia do AT; aconselhados na piedade e na oração
(Mt 6.5-8); capacitados nos dons sobrenaturais (Mc 6.7-13); ensinados
a evangelizar (Lc 9.6), e encorajados a congregar (1Co 11.24); além
de soprados sobre eles o Espírito Santo (Jo 20.22). Os apóstolos
foram como seminaristas que estudaram no mais rigoroso e competente
seminário teológico da época. A honra que foi transmitida aos
apóstolos não se deu por terem, somente, andado com o Salvador, mas
por terem sido escolhidos por Ele. Ainda que alguns não aceitem esta
argumentação por considerar o exemplo de Cristo e dos apóstolos
como incomparável com nossa realidade, temos outros exemplos.
Quando
Paulo se reporta ao jovem Timóteo ele dá orientações comuns à um
pastor de ovelhas (1Tm 4.6-16). Ele, Paulo, ensina como escolher
diáconos e bispos (1Tm 3.1-13). Orienta Timóteo a estudar, ler e
aperfeiçoar-se para o ensino. Em quê esse jovem estaria se
aprimorando não fosse o ministério pastoral? Não poderia ser em
outra coisa, pois o contexto da carta é esse e a preocupação de
Paulo é que esse jovem “seminarista”e “auxiliar” pudesse
completar sua capacitação para por em prática sua vocação (2Tm
3.10). Sim, Timóteo não só tinha dons reconhecidos por Paulo como
espirituais, como também os tinha recebido por imposição de mãos,
isto é, ordenação feita por outros presbíteros. Os dons de
Timóteo eram reconhecidos e encorajados por Paulo. Ele os recebera
de Deus, com certeza, mas foram, de alguma forma, acrescentados
quando devidamente ordenado por Paulo juntamente com outros pastores
(1Tm 4.14).
Outro
exemplo é a linguagem de Paulo para com Tito, que é muito parecida
com a de Timóteo. A este, também, Paulo orienta como ordenar
pastores e plantar igrejas (Tt 1.5-9). Diferente de Timóteo não é
mencionada nenhuma ordenação de Tito, mas em contrapartida é
escrito com todas as letras que Tito tinha autoridade para
estabelecer (ordenar?) presbíteros nas igrejas que iam sendo
plantadas. Tito tinha autoridade conferida por Paulo para pregar,
exortar, disciplinar e ordenar líderes (Tt 1.10-14). Sua função
era muito semelhante a de um Bispo, e seria muito complexo defender
que este jovem não era um pastor ordenado para o ministério (Tt
2.1,15). Pode-se até dar outros nomes para a função que ele
exercia, como queira, mas negar suas prerrogativas de liderança e
autoridade constituída sobre outros líderes é impensável. O
sistema da igreja primitiva estava vinculado e serviente à
autoridade apostólica que tinha poder não só para escolher e
ordenar pastores como para delegar este poder a outros.
A
ordenação pastoral é bíblica e faz parte da história da Igreja.
Confirmamos isto nos primeiros séculos, no decorrer da história da
igreja romana, e na igreja protestante. Os cristãos reformados não
abandonaram a prática e nem os evangélicos posteriores. Parece-nos
que a melhor forma de entendermos tal prática seja a forma como
Cristo a entendeu: “Que seja cumprida toda a justiça”. Não há
motivos sérios para se imaginar que um
cristão possa ou deva se autoproclamar Pastor e estabelecer uma
Igreja que seja “a sua cara”. Nem
também que cada
um viva
seu cristianismo sozinho, pois os cristãos são incentivados a
viverem
em comunhão. Coisas
contrárias a estas
corrompem contra os costumes cristãos de congregar e honrar seus
líderes (Hb 10.25).
Cultuar a Deus em comunidade
deve ser algo plenamente possível para qualquer cristão fiel e
piedoso. Ter um pastor e receber dele a ordenação para prosseguir
com o trabalho é algo que se espera de um fiel discípulo de Cristo,
e que deve ser recebido com alegria e honra. Um pastor não é
estabelecido para ser servido, mas para servir. O desvio moral de
alguns líderes não deve servir como base à rejeição do
ministério pastoral como um todo e não legitima o não
reconhecimento de um
ofício tão nobre e comprovado biblicamente.
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