Temos publicado dois artigos que mostram os motivos teológicos que nos fazem abraçar, como anglicanos, ao Governo Episcopal na Igreja de Cristo.
Nem todos os cristãos herdeiros da Reforma aceitam o Episcopado, e por isso, iremos analisar brevemente algumas das objeções que temos recebido nos últimos dias. As principais foram publicadas aqui mesmo no Olhar Anglicano, na parte de comentários; outras nos foram enviadas pelas redes sociais, por vários irmãos. Faremos uma breve seleção das objeções que chegaram a nos.
a) "Eu não devo me submeter a este ou aquele homem, mas a toda a comunidade. A Igreja é a comunidade".
De fato a Igreja é a comunidade. Um bispo não é a Igreja. Um presbítero, ou mesmo um presbitério inteiro não é a Igreja. Ninguem eh a Igreja estando sozinho. A Igreja é um corpo, e portanto, uma comunidade de fé. Mas tal fato não exclui, ou sequer sugere, que essa comunidade de fé esteja destituída de autoridades. O ensino do Novo Testamento diz exatamente o oposto. Ainda que esse amigo leitor não concorde com o ministério episcopal, precisa se curvar ante aos fatos: existe sim um grupo de pessoas as quais deu o Senhor a autoridade para gerir os assuntos da Igreja.
b) "A sua ideia e, basicamente, a ideia papista de controle da Igreja".
Primeiro, existem outros modelos episcopais alem do modelo "papista". Podemos dizer que a Igreja de Roma funciona quase que como uma "monarquia" absolutista, enquanto outras tradições cristas, como o Anglicanismo, são mais parlamentaristas. E existem vantagens e desvantagens nos dois modelos, mas não é nosso tema aqui.
Segundo, se o leitor quer se livrar de tudo que veio de Roma, ou se parece com Roma, terá muito trabalho a fazer. Deve, por exemplo, jogar no lixo todos os credos da Igreja indivisa, bem como o Dogma da Santíssima Trindade (pelo menos, seu nome técnico), dentre tantas outras coisas aceitas universalmente por todos os cristãos ortodoxos.
c) "Os bispos-presbiteros eram iguais, nunca se diz que um tinha mais autoridade que os outros".
Admitimos, podem conferir no primeiro texto, que os termos "bispos" e "presbíteros" são intercambiáveis. Nosso Bispo é, também, um presbítero, por exemplo. Mas dai a dizer que não se pode demonstrar, biblicamente, que uns homens na Igreja possuem mais autoridade que outros, discordo. Os motivos bíblicos serão apresentados mais adiante.
b) "Tito e Timóteo não tinha igrejas fixas, eles eram autoridade sobre as igrejas de todo o mundo".
Nao é bem assim. Claramente havia, pelo menos, duas jurisdições apostólicas diferentes nos dias do Novo Testamento. S. Paulo, por exemplo, era apostolo das Igrejas gentílicas, enquanto que S. Pedro era apostolo para as igrejas de origem e cultura judaicas. Essa "divisão" foi algo tao forte que pode ser rastreada ate quase ao tempo do Imperador Constantino. Se formos utilizar uma linguagem de certo arranjo moderno podemos dizer que se pode provar, ao menos, duas "dioceses" neotestamentárias, cada uma tendo sua própria "sede apostólica": Pedro-Paulo.
De modo que, quando se nos diz que eles "não tinham igrejas fixas", eis nossa resposta: sob qual ponto de vista? Se eu olhar com os olhos de um batista ou congregacional, certamente não tinham! Se eu olhar com os olhos de um presbiteriano, talvez não tivessem também. Mas se eu olhar para o que o próprio texto diz, certamente as tinham! E a Historia da-nos igual testemunho.
O fato de que S. Paulo diz ter cuidado sobre todas as Igrejas "do mundo" não prova o contrario. Isso seria ir muito alem do pretendido pelo próprio apostolo. A Igreja dos dias primitivos comprovadamente aceitava a divisão apostolar imposta pelo Concilio de Jerusalém, e o próprio Paulo tinha como principio não invadir localidades onde outros já houvessem anunciado o Evangelho. Sao fatos.
c) "As pessoas que tinham jurisdição sobre outras Igrejas no Novo Testamento, não eram Bispos ou Presbíteros. Eram apóstolos, como Paulo, ou eram Evangelistas, como Timóteo".
As coisas não são tao simples como querem fazer parecer. Quando alguém me diz que não ha evidencias que sugiram, por exemplo, que Timóteo fosse um Presbítero, deveríamos ficar preocupados? Nenhum pouco. O fato é que o Novo Testamento sugere exatamente o oposto! Sim, podemos argumentar com grande facilidade que Timóteo era, de fato, um presbítero. E um presbítero que tinha jurisdição sobre varias igrejas primitivas. E não apenas Timóteo, como vermos nos apontamentos a seguir.
Timóteo - Sabemos que, normalmente, os lideres escolhidos nas Igrejas eram "anciãos", ou seja, pessoas com mais idade e experiencia. O jovem Timóteo sofria com isso, devido sua mocidade. O apostolo S. Paulo, contudo, orienta as Igrejas a não desprezarem o ministério do rapaz por causa do fator idade, uma vez que ele havia sido ordenado para o ministério, tanto por orientação profética, quanto pela imposição de mãos dos presbíteros. Como se sabe, e demonstramos no segundo artigo, pela "imposição de mãos" a Igreja consagra seus lideres, Bispos, Presbíteros e Diáconos.
"Ninguem despreze a tua mocidade; mas se exemplo dos fieis, na Palavra, no trato, no amor, no espirito, na fé, na pureza. Persiste em ler, exortar e ensinar, ate que eu va. Nao desprezes o dom que ha em ti, o qual te foi dado por profecia, com a imposição de mãos do presbitério" (I Timóteo 4. 12-14).Temos, portanto, razoes suficientes para acreditar que o jovem discípulo de Paulo foi feito, no minimo, um presbítero. Um presbítero que tinha jurisdição sobre outras Igrejas, ou seja, exercia autoridade sobre outros presbíteros.
Judas, o traidor - Quando o traidor Judas morreu seu lugar ficou vacante. Os apóstolos consideraram isso errado, e trataram de eleger alguém para o seu lugar. A justificativa foi a de quem alguém deveria assumir "o seus episcopado". Infelizmente, muitas traduções protestantes no Brasil traduzem apenas como "ocupar o seu lugar", mas, felizmente, podemos consultar o texto grego!
Aconteceu, então, que um homem chamado Matias foi eleito pela Igreja para ocupar o lugar de Judas, o traidor; ou seja, Matias foi eleito pela igreja um novo... Bispo!
Ora, segue-se que, se o Novo Testamento aplica a Matias, e até mesmo a Judas, o titulo de "Bispo", o mesmo se aplica aos demais apóstolos, como Paulo, Pedro, Mateus, Andre... Todos eles eram Bispos. Bispos que possuíam jurisdição não apenas em Igrejas locais, mas em grandes regiões - o que hoje poderíamos chamar de "dioceses", ou ate mesmo de "províncias", como no Anglicanismo.
Observemos que, se "bispo", "presbítero" e "anciao" são termos idênticos, é irrelevante! O que nos importa é saber se existiam pessoas com tais títulos que possuíam autoridade maior na Igreja, mesmo entre aqueles que possuíam títulos iguais.
S. Pedro - Ainda mantendo em mente que os títulos "bispo, presbítero, ancião", podem ser utilizados de modo intercambiável no Novo Testamento, ouçamos o apostolo S. Pedro:
"Aos presbíteros, que estão entre vos, admoesto eu, que sou também presbítero com eles..." (I Pedro 5.1).Frank Brito, presbiteriano, e editor do indispensável blog "Resistir e Reconstruir", em sua objeção enviada a nos - vejam no primeiro artigo - argumenta que não podemos provar que existiam presbíteros que possuiam autoridade sobre outros presbíteros, mas que todos eles tinham a mesma autoridade. Discordamos! E os fatos bíblicos que temos demonstrado aqui, e acima, são suficientes para sustentamos nossa posição, em consonância, diga-se, com o testemunho da Igreja por mais de 2000 anos a respeito destes mesmos fatos.
Temos, como se vê, ao menos, 13 bispos (os 12 apóstolos e Paulo), que possuíam Jurisdição sobre diversas igrejas, incluindo seus presbíteros e bispos locais. E se pudermos, e tudo indica que sim, incluir Timóteo e Tito entre eles, esse numero já salta para 15!
Temos plena consciência de que a tradição episcopal no Brasil, dentre os cristãos evangélicos, goza de pouco favor e popularidade. Mais isso pode mudar. Isso precisa mudar. Ser reformado, protestante, ou evangelical, não significa ser contra a Igreja de sempre, ao contrario, só sera possível Reformar a Igreja mantendo a catolicidade da mesma.
Os anglicanos representam a terceira maior família crista do mundo, e tem muito a contribuir para a evangelização, e para construção de uma nação fiel ao Evangelho. Desejamos dar nossa pequena contribuição a isso, a começar pela defesa de nossos princípios teológicos, como o Governo Episcopal.
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