Aproveitando que muito se tem dito a respeito da semana da Reforma iremos, hoje, neste estudo sobre os 39 Artigos da Religião, analisar seu caráter protestante. Sabemos que algumas pessoas desconfiam que o Anglicanismo não foi uma Reforma verdadeira, e alguns anglicanos até se iludem na tentativa de conciliar anglicanismo e catolicismo romano. O que dizer a este respeito?
Como já demonstramos em outro artigo - CONFIRA AQUI - os 39 Artigos da Religião são completamente reformados, e defendem plenamente os chamados Cinco Solas, que são o fundamento teológico dos Reformadores. Além disso, os 39 Artigos da Religião fazem veementes. Protestos contra certas doutrinas e praticas do Papa, que serão o motivo deste artigo.
Nos dias do Bispo J.C. Ryle já era forte o movimento ritualista dentro da Igreja da Inglaterra. Tal movimento desejava introduzir novamente na igreja inglesa as praticas que os reformadores rejeitaram. Bispo Ryle foi uma das vozes mais poderosas a se levantar contra o movimento. Ele escreveu:
"Nove vezes os 39 Artigos da Religião condenam, em linguagem clara e inequívoca, as principais doutrinas da Igreja de Roma, e se declara favorável ao que se deve ser chamar de visão protestante. E ainda assim os homens se atrevem a dizer-nos que nós, clérigos evangélicos, não temos o direito de denunciar o papado; que é errado e pouco caridoso ser tão fervorosamente a favor do protestantismo; que o Romanismo é um bom tipo de coisa; e que, ao trabalhamos contra o sobre o papado, o ritualismo e o semi-papado, estamos apenas incomodando a nação e fazendo mais mal do que bem. Bem! Eu estou contente em apontar para os 39 Artigos!".Quais seria essas nove condenações contra a Igreja de Roma? Iremos mostrar cada uma delas neste artigo. Mas antes, devemos dizer que concordamos com a conclusão do bispo Ryle: "Gostaria que qualquer pessoa me explicasse como pode um clérigo anglicano agir consistentemente se não se opõe, denuncia, expõe e resiste ao Papado, seja dentro ou fora da Igreja. Os outros cristãos podem fazer o que bem entenderem, até aprovar o Papado, se assim desejam. Mas, a menos que os 39 Artigos da Religião sejam alterados ou rejeitados, é dever sagrado de cada ministro anglicano se opor ao Papado".
A Igreja Romana não é infalível.
Os apologistas romanos argumentam que a Igreja não pode errar. Se ela diz que os cristãos devem prestar culto à Virgem Maria, essa é a verdade. A Igreja de Romana não erra em matéria de fé, ensinam. Nossa confissão de fé claramente rejeita tal ideia.
"Assim como a Igreja de Jerusalém, de Alexandria, e de Antioquia erraram; assim também a Igreja de Roma errou, não só quanto às suas práticas, ritos e cerimônias, mas também em matéria de fé" - ARTIGO XIX, 39 Artigos da Religião.
A Igreja de Roma possui ensinos repugnantes as Escrituras.
"A doutrina romana relativa ao Purgatório, Indulgências, Veneração e Adoração tanto de imagens como de relíquias, e também à invocação dos Santos, é uma coisa fútil e vãmente inventada, que não se funda em testemunho algum da Escritura, mas ao contrário repugna à Palavra de Deus" - ARTIGO XXII, 39 Artigos da Religião.A Igreja Romana estabeleceu leis contrárias ao Evangelho.
Por exemplo, a liturgia em latim, que por muitos anos foi cousa obrigatória.
"Repugna evidentemente à Palavra de Deus, e ao uso da Igreja Primitiva dizer Orações Públicas na Igreja, ou administrar os Sacramentos em língua que o povo não entende" - ARTIGO XXIV, 39 Artigos da Religião.A Igreja de Roma obriga Sacramentos não ordenados por Cristo.
Lembrando que os anglicanos aceitam apenas dois Sacramentos, a Eucarístia e o Batismo.
"Os cinco vulgarmente chamados Sacramentos, isto é, Confirmação, Penitência, Ordens, Matrimônio, e Extrema Unção, não devem ser contados como Sacramento do Evangelho, tendo em parte emanado duma viciosa imitação dos Apóstolos, e sendo em parte estados de vida aprovados nas Escrituras; não tem, contudo, a mesma natureza de Sacramentos peculiar ao Batismo e à Ceia do Senhor, porque não tem sinal algum visível ou cerimônia instituída por Deus" - ARTIGO XXV, 39 Artigos da Religião.A Igreja de Roma torna a Ceia de Cristo uma superstição.
"A Transubstanciação (ou mudança da substância do Pão e Vinho) na Ceia do Senhor, não se pode provar pela Escritura Sagrada; mas antes repugna às palavras terminantes da Escritura, subverte a natureza do Sacramento, e tem dado ocasião a muitas superstições. O Corpo de Cristo é dado, tomado, e comido na Ceia, somente dum modo celeste e espiritual. E o meio pelo qual o Corpo de Cristo é recebido e comido na Ceia é a Fé" - ARTIGO XXVIII, 39 Artigos da Religião.A Igreja de Roma normalmente nega o cálice aos cristãos leigos.
De fato, normalmente os leigos comem apenas o pão. O argumento romano é que o pão, por ser o corpo de Cristo, possui também o sangue de Jesus. Contudo, a ordem de Jesus e dos apóstolos é que todos participem de ambas espécies, vinho e pão.
"O Cálice do Senhor não se deve negar aos Leigos; porque ambas as partes do Sacramento do Senhor, por instituição e ordem de Cristo, devem ser administradas a todos os cristãos igualmente" - ARTIGO XXX, 39 Artigos da Religião.A Igreja de Roma transforma a Ceia do Senhor em uma blasfêmia.
Tal afirmação se deve ao fato de que, segundo a Igreja de Roma, o padre oferecer novamente o corpo de Cristo em sacrifício, ainda que de modo ao cruel. Os reformadores entendiam que precisamos levar a sério quando a Escritura diz, em Hebreus, que o sacrifico de Cristo foi único.
"A oblação de Cristo uma só vez consumada é a perfeita redenção, propiciação, e satisfação por todos os pecados, tanto originais como atuais, do mundo inteiro; e não há nenhuma outra satisfação pelos pecados, senão esta unicamente. Portanto os sacrifícios das Missas, nos quais vulgarmente se dizia que o Sacerdote oferecia Cristo para a remissão da pena ou culpa, pelos vivos ou mortos, são fábulas blasfemas e enganos perigosos" - ARTIGO XXXI, 39 Artigos da Religião.A Igreja de Roma abre portas ao pecado, com seu celibato obrigatório.
A Igreja Reformada não é contra o celibato, desde que o mesmo seja tomado voluntariamente.
"Os Bispos, Presbíteros e Diáconos não são obrigados, por preceito algum da lei de Deus, a votar-se ao estado celibatário, ou abster-se do matrimônio; portanto é-lhes lícito, como aos demais Cristãos, casar como entenderem, se julgarem que isso lhes é mais útil à piedade" - ARTIGO XXXII, 39 Artigos da Religião.A Igreja de Roma erra ao exigir supremacia sobre as demais Igrejas do mundo.
"O Bispo de Roma não tem jurisdição alguma no reino da Inglaterra" - ARTIGO XXXVII, 39 Artigos da Religião.Desde os dias de Ryle a questão sobre qual é o verdadeiro rosto do anglicanismo tem causado terremotos. Somos da mesma opinião do bispo de Liverpool. Onde existe Reforma, como a encontramos nos 39 Artigos da Religião, ali existe Igreja Anglicana. O desafio atual é justamente reacender a chama da Reforma, dentro e fora dos nossos arraias. E os 39 Artigos da Religião são de grande ajuda nesta tarefa.
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